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Uma Universidade, Duas Gerações

No Dia do Pai falámos com Catarina da Fonseca Pinto, licenciada em Física pela Faculdade de Ciências (FCUL) e que se encontra atualmente no curso de Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico (IST) , e com o seu pai, Álvaro Pinto, Alumni, Técnico Superior da Faculdade de Ciências (FCUL) e Diretor Executivo do Centro Ciência Viva do Lousal - Mina de Ciência .

Uma Universidade, Duas Gerações

Porque optou por realizar o Mestrado na Faculdade de Ciências?

Álvaro Pinto: Na altura em que resolvi aprofundar os meus conhecimentos técnicos e continuar os estudos académicos, estava a trabalhar numa empresa mineira no Alentejo. A área de especialização que segui, e onde desenvolvia atividade profissional, está fortemente ligada à mineralogia e à metalogenia (a metalogenia é o ramo da ciência que se ocupa do estudo da génese dos jazigos minerais). Já naquela época a FCUL representava o que de melhor se fazia nesse domínio a nível nacional, com forte ligação e reconhecimento internacionais. Por outro lado, também conhecia e estava profissionalmente em contacto com investigadores e professores do Departamento de Geologia (DG) da FCUL. Por isso, foi para mim absolutamente obvio que a continuação da minha formação académica passava pela Universidade de Lisboa.

Optou por realizar a sua licenciatura na Faculdade de Ciências. O percurso académico e profissional do seu pai teve alguma influência na sua escolha?

Catarina Pinto: Não tanto o académico, mas mais o profissional. Tenho a certeza que crescer no meio da ciência e museus influenciou/incentivou o meu gosto pela ciência. Lembro-me de ficar radiante por ver uma exposição sobre dinossaurios a ser montada ou pela minha festa de aniversário ser realizada no Museu Nacional de História Natura e da Ciêncial. Ainda hoje recordo-a como uma das melhores, senão mesmo a melhor festa de aniversário que tive. 

O meu pai também apoiou sempre os meus interesses, desde os dinossaurios à minha descoberta da astronomia. Lembro-me perfeitamente que quando lhe disse que estava indecisa entre engenharia, física e matemática, o meu pai levou-me a falar com pessoas da área para esclarecerem as minhas dúvidas. Divulgou-me a primeira sessão do “Ser Cientista” realizada pela FCUL, o que me levou a participar nas duas primeiras edições do programa e a fazer descobertas interessantes sobre as áreas da física que me cativavam mais.

Acredito cegamente que o meu pai foi uma grande influência no meu percurso académico e profissional, mas mais por me fornecer todas as ferramentas ao seu alcance para eu explorar os meus interesses do que por todos os jantares em que ele e a minha mãe discutiram geologia. 

Como descreve a sua experiência académica na Universidade de Lisboa?

A.P: Fantástica. No ano em que me inscrevi no mestrado houve uma enorme procura e interesse pela oferta que o Departamento de Geologia da FCUL disponibilizava. Para a época, a turma que se constituiu era muito grande, sendo formada por mais de trinta alunos. Se por um lado tive a oportunidade de beneficiar dessa riqueza e diversidade de estudantes, com diferentes interesses, diferentes conhecimentos e diferentes vivências, por outro lado tive o privilégio de desfrutar dos saberes ministrados por especialistas que estavam na vanguarda do que melhor se fazia, a nível internacional, nos seus domínios do conhecimento. Muitos dos meus professores de mestrado ainda hoje estão no ativo, outros já estão retirados. Felizmente ainda estão todos entre nós e tenho o privilégio de poder conviver com muitos deles, beneficiando das já longas amizades iniciadas naquela altura e desenvolvendo, ainda hoje, atividades e projetos com alguns deles.

O que sentiu ao estudar na Faculdade onde o seu pai trabalha?

C.P: No início senti-me privilegiada. Passei muito tempo naquela Faculdade antes de ingressar nela. Nunca me senti uma caloira perdida nos edifícios da Faculdade.  Mais tarde tornou-se um constante sorrir e acenar a algumas pessoas que sabiam quem eu era e eu, ou não me lembrava, ou não conseguia reconhecer, imediatamente, quem eram. A verdade, é que o balanço foi sempre positivo. Tinha sempre um lanche oferecido ou boleia, mas também o meu espaço. De facto, acho que se conta pelos dedos de uma mão os professores que sabiam que o meu pai trabalhava na faculdade. 

Como reagiu quando a sua filha escolheu estudar na mesma Faculdade onde realizou o seu Mestrado?

C.P: Claro que fiquei muito contente. A solidez da formação na FCUL é reconhecida e é para mim muito importante. O paradigma atual da necessidade de uma formação contínua, ao longo da vida, requer que as bases dessa formação sejam muito sólidas, pois só com fortes alicerces se pode edificar uma estrutura grande e esperar solidez e estabilidade dessa mesma estrutura. Por isso a ideia de ver a Catarina a fazer a sua formação superior na mesma Faculdade, transmitia-me uma enorme segurança para o seu futuro. Eu sabia que, quaisquer que viessem a ser as suas opções futuras, a Catarina iria estar preparada; bem preparada. Também sabia que iria beneficiar da sua proximidade e até poder desfrutar da sua companhia para um café ou um lanche mais descontraído.

Mas, havia ainda um outro fator muito relevante. A vida não se limita aos conhecimentos técnicos. As relações humanas são altamente estruturantes e marcantes para um estudante do ensino superior que está a construir o seu perfil e a sua forma de estar no mundo do trabalho. Conhecendo Ciências e a cultura da organização, sabia que o ambiente onde a Catarina iria fazer a sua formação seria igualmente muito favorável. A convivência que iria experimentar com colegas, corpo técnico e corpo docente constituiriam uma outra mais-valia, não menos importante, para a sua formação e crescimento enquanto pessoa e futura profissional.

No entanto, devo confessar que a escolha da Catarina pela FCUL não foi uma “grande” surpresa para mim. Naturalmente que eu já sabia do interesse da Catarina pela ciência em geral, e pela matemática e pela física em particular. Mas, para além desse interesse intrínseco, a Catarina beneficiou de ser uma das pioneiras a participar no programa “Ser Cientista”, lançado pela FCUL dois anos antes dela ingressar no ensino superior. A sua participação na 1ª e 2ª edições desta iniciativa possibilitou um contacto próximo com investigadores, técnicos, estudantes de pós-graduação e professores de Ciências ULisboa. Também lhe permitiu conhecer os espaços físicos da Faculdade, nomeadamente os laboratórios, onde teve oportunidade de desenvolver “microprojectos” com orientação científica. Não menos importante, para a Catarina, foi a formação complementar e o convívio com toda a equipa que garantia o funcionamento do “Ser Cientista”. A Catarina viveu o ambiente da FCUL, antes de decidir ser membro desta comunidade. Por isso não foi, para mim, uma surpresa muito grande ver a Catarina a escolher estudar na FCUL. O interesse da Catarina pela Física sempre foi mais do que muito. Contudo, a Catarina tinha dúvidas entre seguir Física Teórica, Engenharia Física ou Matemática. Mais uma vez foi por “intermédio da FCUL” que essa dúvida se dissipou. Um dos maiores responsáveis por essa clarificação da opção da Catarina provavelmente irá saber disso pela leitura deste texto. Certo dia, no Centro Ciência Viva do Lousal – Mina de Ciência, organizou-se uma atividade sobre matemática, onde o Prof. Jorge Buescu teve a amabilidade de aceitar participar e proferir uma palestra. Todos sabemos que o Prof. Jorge Buescu é “físico de formação e matemático de profissão”. Durante a hora de almoço a Catarina teve oportunidade de falar com o Prof. Jorge Buescu, sobre as suas dúvidas e hesitações, às quais, o Prof. Jorge Buescu, lhe foi respondendo e apresentando a sua perspetiva e análise. Mal sabia que dali a pouco mais de um ano a Catarina haveria de ser mais um dos seus alunos, nas disciplinas de Matemática, do curso de Física da FCUL.

O seu pai é, para si, uma inspiração?

C.P: Sim, claro que sim. Desde pequena que gosto de dizer a piada "sou filha de 2 geólogos, não posso ir à Serra da Estrela sem ouvir uma aula dupla de geologia". Mas a verdade é que desde o 1º ciclo que vejo o meu pai a divulgar ciência seja na minha escola, seja no Museu Nacional de História Natura e da Ciência. Acima de tudo vejo-o a “contagiar” crianças com o “bichinho” da geologia. Eu acredito que ele consegue fazer isso porque ele próprio é apaixonado pela geologia, um fenómeno que se ouve na voz e vê-se nos olhos enquanto fala. Isto inspirou-me a procurar um tópico sobre o qual não me canse de falar e trabalhar. Ainda hoje, quando o meu pai fala do Centro Ciência Viva do Lousal – Mina de Ciência, e do projeto de comunicação e divulgação de ciência que lá está em curso, vê-se que fala com carinho e, é isso que ambiciono na minha vida profissional: trabalhar num projeto que me preencha e me apaixone. 

Como descreve a sua filha?

A.P: Inteligente, teimosa, determinada, objetiva e extremamente responsável. A Catarina é uma pessoa muito empenhada, determinada e resiliente. Incapaz de fazer qualquer coisa mal feita, é excelente no planeamento e execução de projetos. A sua natureza determinista, não no sentido reducionista, mas antes no sentido da procura das relações de causalidade, impele-a a estabelecer estratégias e planos de ação que antecipam as situações. Proactiva por natureza, procura sempre antecipar conjunturas para poder ter uma solução pensada e planeada. Assume responsabilidades sem hesitações, determinando as suas ações em resposta às situações impostas pelo meio, com ímpeto, ambição e espírito de liderança. A Catarina é muito rigorosa, empenhada e amiga do seu amigo. É generosa e, se não lhe perguntarem, costuma guardar para si as suas opiniões. Para além disso é muito bonita, mas eu sou suspeito a dizer todas estas coisas sobre a minha Catarina.

Como descreve o seu pai?

C.P: O meu pai é muitas coisas: geólogo, “chato”, falador, empenhado, exigente, persistente, engraçado... Podia fazer uma lista muito longa, mas o que eu acho que é a característica mais importante do meu pai é como ele está sempre pronto para me apoiar, a mim e à minha irmã. Se nós temos um sonho/objetivo, ele apoia-o quase cegamente. Fornece-nos o máximo de informação para fazermos as melhores escolhas e, apesar de muitas vezes partilhar o seu ponto de vista, nunca o força. Temos sempre espaço para tomar as nossas decisões e cometer os erros que temos de cometer, sabendo que temos sempre uma safety net por baixo.

 

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