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Investigação e Desenvolvimento

Verónica Policarpo: “Eu acho que sempre fui investigadora”

No Dia Nacional da Cultura Científica entrevistámos a Investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS ), Verónica Policarpo que recebeu uma bolsa de consolidação do Conselho Europeu de Investigação para compreender como os animais recuperam de grandes incêndios florestais.

Verónica Policarpo: “Eu acho que sempre fui investigadora”

Doutorada em Sociologia, atualmente dedicada aos Human-Animal Studies, Verónica Policarpo, afirma “eu acho que sempre fui investigadora. Sempre tive essa curiosidade. Uma curiosidade insaciável pela maneira como o mundo funciona, como é e, em particular, sobre a maneira como nós, seres humanos, nos relacionamos com o mundo. Em termos formais, tornei-me investigadora quando entrei para o 1.º ano da Universidade porque uma professora me recrutou para um projeto.”

Mais tarde, Verónica ingressou no mestrado e aí, convidaram-na para trabalhar num centro de investigação da Universidade Católica. “Mas depois, um ponto de viragem muito importante, foi quando vim para o doutoramento no ICS. Nós aqui somos investigadores, o que significa que o nosso tempo, em exclusividade, é dedicado à investigação.”

Sobre o seu dia a dia não esconde que é necessário muito “trabalho de secretária”. “Faço muita pesquisa bibliográfica, leitura, revisão de literatura, discussão de ideias e escrita de artigos e isto é uma parte muito substancial do meu quotidiano. Existe ainda toda a gestão administrativa e burocrática da investigação. Preciso de contratar equipa, definir os perfis, reunir com os júris e com as pessoas que trabalham comigo.”

Para além disto, há também o trabalho de campo que é muito importante nos projetos. “Estamos sempre desejosos de fazer esse trabalho. É necessário fazer entrevistas, falar com as pessoas. E passar tempo com os animais e com as comunidades. É todo um processo muito interessante.”

Num projeto de investigação é importante saber comunicá-lo e Verónica sabe muito bem que é fundamental fazer chegar a mensagem de forma simplificada ao público. “A minha maior dificuldade não é comunicar ciência. Tenho muita consciência que temos de fazer chegar a mensagem numa linguagem que não seja tão complexa. O que sinto mais dificuldade é mesmo fazer com que a divulgação resulte e tenha o verdadeiro impacto que merece. Não falo de métricas, mas sim da minha perceção. E sinto que por vezes a comunicação não alcança como acredito que deveria alcançar.”

Mas, a comunicação não é o maior problema da investigação. “De todo. O maior problema é, sem dúvida, a precariedade. E isso prejudica muito o trabalho dos investigadores. Não têm a tranquilidade necessária para fazer boa investigação. Um investigador que está sempre na angústia de não saber se daqui a três meses vai ter contrato, ou não, fica numa posição muito difícil. Isso é um problema do sistema e tem de ser o sistema a resolvê-lo. Tem de haver uma política de ciência e muito mais investimento.”

“Por exemplo, esta bolsa que eu ganhei é um mega financiamento. Mas, quer dizer, nós ganhamos em Portugal com muito menos condições do que outros colegas, noutros contextos em que a precariedade não é tão grande.”

Sobre o momento em que recebeu a notícia da bolsa, Verónica afirma que não acreditou que era verdade. “Foi assim algo extraordinário na minha vida. Uma enorme oportunidade em que coloquei muito esforço. Não foi sorte! Foi resultado de um esforço hercúleo. Eu comecei a pensar se me deveria candidatar na primavera de 2020. Candidatei-me na primavera de 2021. Foi quase um ano a preparar a candidatura de forma intensiva. Em setembro de 2021 soube que fui selecionada para uma entrevista, que teve lugar em janeiro de 2022. Houve muito para preparar.

Talvez em vez de olharmos para as coisas como responsabilidade, devêssemos olhar para elas como contribuição.

Mas quando assimilei a notícia senti duas coisas opostas: por um lado, uma enorme alegria; por outro, uma enorme responsabilidade. E um amigo disse-me algo muito interessante que vou partilhar convosco. Talvez em vez de olharmos para as coisas como responsabilidade, devêssemos olhar para elas como contribuição. E assim, deixamos de olhar para a palavra responsabilidade como um peso e começamos a pensar: O que é que eu tenho a mais na minha vida? Onde é que na minha vida há abundância que me permita partilhar com os outros? E, neste caso, eu tenho a abundância da ideia e do saber. Coisas que posso transmitir aos estudantes, a uma equipa que venha trabalhar comigo e que possamos, em conjunto, contribuir para o sucesso da investigação em curso.”

Fotografias: Duarte Pinheiro

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