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Dia Mundial do Ambiente

Para marcarmos o dia falámos com o Presidente do Instituto Superior de Agronomia (ISA) , Professor António Guerreiro de Brito sobre os riscos que enfrentamos no âmbito das alterações climáticas.

Dia Mundial do Ambiente

No âmbito das alterações climáticas, quais os riscos que enfrentamos?

Os riscos associados às alterações climáticas são múltiplos e possuem impactes de magnitude e grau de significância diferenciados aos níveis local, regional ou global. Por outro lado, os impactes reais são função do grau de sucesso das estratégias de adaptação ou de mitigação que estejam a ser concretizadas, pelo que não podem ser generalizados de forma imediata. Neste quadro, também por ser um dos riscos sobre o qual o Instituto Superior de Agronomia detém um profundo conhecimento, destacaria os riscos sobre as cadeias alimentares e a segurança alimentar.

É verdade que a variabilidade climática não é um fenómeno novo na agricultura ou na floresta. O que é novo é o facto de estarem em expansão os territórios sujeitos a uma mudança climática - parte de forma permanente, outros a serem atingidos por fenómenos intensos de curta duração. Por isso, as mudanças climáticas aceleram a transformação e poderão atingir muitos elementos dos sistemas alimentares e todas as dimensões da segurança alimentar. Afetarão, por exemplo, a produção de alimentos através de mudanças nas condições agroecológicas e nos usos da terra. Condicionarão, indiretamente, a viabilidade das culturas e a distribuição de rendimentos, em especial nos grupos sociais mais frágeis. É de notar que, em geral, os impactes das alterações climáticas serão negativos, mas, em contrapartida, também se poderia considerar que as concentrações mais elevadas de dióxido de carbono poderiam ter um efeito positivo nas culturas, melhorando a produção e o rendimento. No entanto, a magnitude desse efeito ainda não pode ser generalizada, dependerá do tipo de cultura e dos fatores de produção (e.g. regimes de irrigação e fertilização). Por tudo isto, devemos ser cautelosos e conhecermos os riscos das alterações climáticas e os seus impactes para, assim, decidirmos melhor a estratégia de resposta enquanto sociedade humana solidária.

Que medidas podem ser implementadas para minimizar esses riscos?

As medidas a implementar para enfrentar a mudança climática não podem ser uma mera lista de desejos e devemos começar por privilegiar aquelas que não terão, certamente, quaisquer consequências negativas. Nesse sentido, o primeiro vetor para minimizar riscos consiste na existência de politicas públicas sólidas, com metas claras e convergentes para se atingirem objetivos de adaptação e mitigação nos sectores que medeiam impactes das alterações climáticas. Destaco, contudo, a aplicação de estratégias baseadas na comunidade local, as quais constituem, certamente, o elo mais  forte para o estabelecimento de uma rede de segurança. Existe também um outro conjunto de medidas que podem ser implementadas neste domínio. Em primeiro lugar a mobilização para a práticas agrícolas sustentáveis e a conservação de recursos, incluindo a melhoria da capacidade de irrigação. Em segundo lugar a digitalização e a modernização do sector, incluindo a robotização e o uso de inteligência artificial, mas em certos casos e não em todos. Finalmente, a existência de seguros e o financiamento para a adaptação ou a disponibilidade de infraestruturas de transporte e comunicação num comércio internacional justo são, todas elas, iniciativas que contribuirão para minimizar riscos das alterações climáticas.

Considera que a pandemia da COVID-19 teve impacte a nível de alterações ambientais?

Não ignorando os danos irreparáveis da Covid-19 em vidas e na saúde, devemos esperar que tenhamos aprendido as lições desta experiência, pois será sempre repetível. Um resultado inesperado desta situação foram as melhorias muito significativas verificadas num curto espaço de tempo, em termos de poluição da água e do ar e que, agora, deveremos ambicionar que se mantenham. Devemos aproveitar esta janela de oportunidade para reconstruir a economia de uma forma que reconheça, e reforce, uma ligação mais estreita entre o bem-estar humano e um ambiente de qualidade e saudável. As causas desta pandemia podem bem ter sido fundadas na disrupção dos ecossistemas, não devemos ignorar esse aspecto. Contudo, não é certo que vá ser assim o futuro próximo e que o mundo não volte a ser mais do mesmo. É o caminho mais fácil e óbvio. Contudo, os governos devem ajudar as sociedades a satisfazer suas necessidades e aspirações na era pós-Covid-19, promovendo um sentido sustentável e resiliente para a recuperação económica. Não precisa de ser com grandes parangonas, pode ser com pequenas decisões, cirúrgicas, combinando incentivos e restrições em sectores chave, decisões justificadas por quem sabe o que deve decidir. Temos esperança.

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