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Cultura e Lazer

Dia Mundial do Teatro | Entrevista a Bruno Schiappa

Neste Dia Mundial do Teatro, falámos com Bruno Schiappa, ator, encenador, dramaturgo e investigador, doutorado pela Universidade de Lisboa e Mestre pela Faculdade de Letras (FLUL) na especialidade de Estudos de Teatro. Falámos sobre a sua inspiração para atuar, sobre a relevância do teatro na cultura e contámos, ainda, com questões propostas pela comunidade da Universidade de Lisboa, colocadas através do Instagram. Assiste também à entrevista em vídeo, disponível no YouTube.

Como se inspira para desenvolver o seu trabalho artístico?

Faço sempre o possível para me inspirar primeiro no contexto das personagens e, a partir daí, ir procurando em mim semelhanças ou paralelismos que me promovam a possibilidade de poder, de algum modo, viver algo parecido para depois poder devolver isso. Eu acho que o ator procura em si as situações e circunstâncias/semelhanças ou acontecimentos que possam transferir para poder veicular esta ou aquela situação/emoção para o ator poder partilhar. Se eu saio totalmente de mim, vou à procura de algo que desconheço e se é algo que desconheço, não consigo aceder.

 

Considera que o teatro continua a ser um bom método de transmissão de mensagens para o público?

Essa questão não é de fácil resposta e não tem uma resposta única. O que nós temos aqui é algo que é inerente ao ser humano: é o teatro e a comunicação. O teatro é a arte maior para mim porque é capaz de tocar e transformar as coisas.

O teatro continua a ser um ritual de deslocação ao sítio para ir usufruir de algo. Continua a ser um espaço  de grande passagem de mensagens importantes. A questão que se coloca é: que tipo de pessoas é que continuam a ir ao teatro? As pessoas estão a ficar muito confortáveis (contra mim falo) com a possibilidade de estar num espaço caseiro e por isso, perdem a alegria de se deslocarem para chegarem [ao teatro]. [As pessoas] sempre que vão ao teatro saem de lá com outra informação, outra disposição, com uma alteração na forma de pensar. Portanto, sim, o teatro continua a ser um excelente veículo de mensagens importantes.

 

É fácil fazer teatro em Portugal?

Não é fácil em lado nenhum. […] Fazer teatro é quase como uma teimosia, mas, ao mesmo tempo, é uma forma de estar na vida. […] Não é uma pergunta fácil de responder e não tem só  uma resposta, mas, se eu quiser ser ator de teatro exclusivamente só porque considero que é aí que posso criar a minha vida […] não, não é fácil. Se eu quiser ser ator de teatro porque não sou outra coisa, sim é fácil.

 

Qual acha que é o papel do FATAL (Festival Anual de Teatro Académico) no panorama do Teatro Académico? 

Durante muitos anos o teatro académico era o único veículo para se passar mensagens  encriptadas. O teatro académico é crucial e é muito diverso, felizmente. O papel do FATAL é crucial porque encontra um espaço de convergência de projetos e linguagens e daquilo que  continua a mover e motivar gerações que vão surgindo. Não poderá deixar de existir, de todo. Nunca.

 

Perguntas colocadas pela comunidade da ULisboa

 

Como foi a sua experiência como aluno da Faculdade de Letras?

A minha ligação à Faculdade de Letras remonta a 1996 quando comecei a fazer Estudos de  Teatro e encontrei um grupo docente maravilhoso com um programa curricular maravilhoso. Cada docente tinha uma assinatura pessoal em como lidava connosco e nos estimulava. Abriu-se uma série de perspetivas fantásticas e enriquecedoras. No mestrado repetiu-se essa  experiência.

 

Como é que foi entrar no mundo do trabalho depois de terminar os estudos em teatro?

Eu tive sorte. […] Fui entregue a uma companhia que estava a crescer na altura, que era, o Teatro do Tejo, com a qual eu colaborei durante vários anos. Não havia tantos projetos como há atualmente, mas havia alguns que se foram fazendo. Havia outra coisa paralela […]: a dança. E, portanto, eu já tinha algum nome no mercado como coreografo e como ator físico e de mimica. Portanto, eu era muitas vezes convocado pela RTP  no Dia Mundial do Teatro. Tudo isso contribuiu para que as coisas fossem mais ou menos fluídas. O problema é agora, que ao contrário das outras profissões, que quanto mais anos trabalha melhor se ganha, no trabalho performativo o inverso é muitas vezes a realidade. Portanto, depende sempre das épocas.

 

Possui algumas dicas para quem quer seguir a área do teatro?

O compromisso com a personagem. Estar sempre atento aos vícios e aos clichés. Fazer a  entrega do modo mais intenso possível. Se querem fazer teatro, sejam atores inteiros, não aos bocadinhos. E sobretudo, estejam preparados porque é um masoquismo muito grande. (risos)

 

Possui algum ritual antes de atuar?

Até 1995, eu era daquelas pessoas que se benzia. (risos) Agora utilizo o processo de relaxamento, algo para diminuir o nervoso-miudinho, ou mesmo, o stage fright. E depois criar o  espaço que eu criei para me inspirar para o espaço do espetáculo ou da cena. Portanto, trabalhar com a memória dos sentidos. Aí começo a ficar ligado e quando as coisas começam a acontecer, já eu comecei. Ou seja, para mim a cena começa antes de começar: vem de trás. Para mim é a  única forma de me sentir menos inseguro.

 

Como tem sido a sua adaptação à pandemia e como tem ultrapassado os obstáculos impostos pela mesma?

Eu estou muito zangado pela forma como a cultura está a ser tratada porque a cultura está a ser comunicada como inimigo da saúde pública. Tenho tido consequências muito graves. Tenho-me adaptado muito mal porque o meu ritmo de vida está muito mais sedentário, passo mais tempo nas plataformas digitais. De vez em  quando, crio coisas pro bono como poesia ou uma série curta de humor com trocadilhos de  provérbios.

No sentido artístico, não vou dizer que não me fui abaixo. Durante uns tempos ainda tentei a  manter as pessoas bem-dispostas, mas depois quando começou o desconfinamento percebi que me tinha afetado a nível pessoal e artístico. Estou a escrever um livro pessoal e desde que começou o confinamento nunca mais escrevi. Artisticamente, tenho de respirar fundo muitas vezes.

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