Para assinalar a data, falámos com Teresa Faria, atriz, dramaturga, encenadora e investigadora do Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) sobre o panorama atual do teatro em Portugal, a sua importância no contexto académico e as preferências em relação ao processo artístico.
Dia Mundial do Teatro: “O teatro como espaço de liberdade, de cultura e humanidade. E acima de tudo de questionar”
Como descreveria o panorama atual do teatro académico em Portugal?
Um tecido criativo, em expansão, diverso, estética e eticamente. Grupos com historiais muito diferentes (entre o TEUC e outros mais recentes). O teatro académico tem um mapeamento também em expansão, já não é só Lisboa, Porto e Coimbra, mas também Bragança ou Faro, por exemplo, conforme a implantação do próprio ensino superior, em Portugal. Na sua diversidade, apresenta tendências ou formatos vários: de autor, de trabalho sobre imagem e metáfora, performativo, de intervenção sociopolítica (teatro documental) ou mais naturalista ou realista entre o narrativo e o visual, mas com tendência para a contemporaneidade. As suas produções tendem a ser rigorosas e exigentes.
Em geral, todos os Grupos têm uma seriedade e empenhamento muito visíveis, mostrando muito trabalho, mesmo relativamente a materiais e formas de divulgação. Contudo, parece haver dificuldades económicas, particularmente com os espaços, o que evidentemente dificulta a criação.
Em termos artísticos, prefere o seu papel como atriz ou como dramaturga e encenadora?
Como atriz, porque mais essencial. Um corpo, um espaço um movimento. Por momentos, também existe uma dramaturgia e encenação interiores. Criações de sentido. Tão invisíveis como fugazes. Tão (in)controláveis. Efémeras, mas sempre memória no corpo. Uma relação com os outros criadores e com quem vê. Os dois trabalhos que mais importância tiveram na minha vida profissional foram A Nonna, de Roberto Cossa, encenação de Paula Sousa, no Teatroesfera, em 2005 e Kiki van Beethoven, pelo Teatro Meridional, encenação de Natália Luiza, em 2019.
Qual é a importância do teatro académico?
Vital, porque é uma aprendizagem total: palavra, corpo, artes plásticas e vivências relacionais de partilha e colaboração. A adolescência e os tempos de estudos universitários determinam toda a vida de uma pessoa. Com o Teatro aprende-se a trabalhar em Equipa, a organizar e produzir o trabalho. Criar. Ler. Ler muito e sempre. Saber ouvir. Procurar tempos que não são cronos. Descobrir capacidades que temos e não sabemos. Ampliar a vida, vivendo outras vidas.
O teatro como espaço de liberdade, de cultura e humanidade. E acima de tudo de questionar. O teatro como provocador para a conscientização dos grandes problemas socias e globais. Um caminho para encontrar o nosso lugar no Mundo. Um espaço universal e íntimo.
O que inspirou o seu interesse pelo teatro?
Ir mais longe, arriscar poder viver de uma arte em Portugal. Poder comunicar com o corpo/palavra em pensamento/emoção. Aprender e partilhar saberes e técnicas que podem ser úteis a qualquer pessoa. Procurar: processos de criação provocadores, um constante pôr à prova, uma permanente pesquisa, uma total generosidade, conhecer a criatura humana em geral e a nós próprios em particular. Poder crescer sempre… enfrentando medos. E estudar, conforme o trabalho que estou a desenvolver. Estudar. Aprender. Provocar. Arriscar.
Como foi a sua experiência como aluna de teatro?
Muito medo. Perdida. Não gostava dos edifícios, - frios, na cor, na luz e na forma. Mas fascinada. Não conhecia nenhum colega, nem nenhum professor. Tudo era novo. Devagarinho a confiança foi crescendo, ganhando coragem. Muitíssimo trabalho. Talvez transformando as fragilidades em pontos fortes. Sempre com partilha. Acreditando na dúvida como rampa para a decisão. Nunca pensei muito que tinha de me expor. Tinha de ser. Fazia. E fiz. E farei. O curso de Estudos de Teatro, que estudei na FLUL, em 1992-94 (1.ª edição) foi a experiência de aprendizagem mais importante da minha vida académica. Não poderei esquecer o professor Osório Mateus.
Fotos: Mariana Castro
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