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Investigação e Desenvolvimento

Doutoranda usa Herbário Lisu para estudar Briófitos da Macaronésia

O objetivo é compreender a distribuição de briófitos de acordo com a sua expressão sexual, assim como os fatores ambientais que a influenciam.

Doutoranda usa Herbário Lisu para estudar Briófitos da Macaronésia

Coleção de briófitos do herbário LISU do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa (MUHNAC) vai contribuir para estudo mais alargado sobre como os fatores ambientais e ecológicos afetam a expressão sexual de briófitos (musgos e hepáticas) e a sua distribuição espacial na Macaronésia.

Anabela dos Santos Martins é estudante de doutoramento no âmbito do programa BIODIV-Biodiversity, Genetics and Evolution, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e está a desenvolver parte do seu trabalho de investigação no MUHNAC, mais especificamente no Departamento de Botânica, para estudo da Coleção de briófitos do herbário LISU, e sob a orientação de Manuela Sim-Sim, professora e investigadora da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Com o seu trabalho de investigação, Anabela dos Santos Martins explica que se propõe a responder «até que ponto as espécies de briófitos unissexuais (isto é, dioicas) endémicos da Macaronésia desenvolvem uma segregação espacial dos sexos, e quais os fatores que podem influenciar essa segregação nos cenários climáticos atuais e futuros?».

É sabido que estas plantas estão seriamente ameaçadas em risco de extinção, aproximadamente 20% da sua diversidade total está incluída em Listas Vermelhas para os arquipélagos das Canárias e Madeira, devido às múltiplas ameaças induzidas pela ação humana, incluindo as alterações climáticas.

Um problema muito grave na medida em que «os briófitos têm um papel vital nos ecossistemas terrestres, são fundamentais na formação, estabilização e recuperação dos solos e são extremamente importantes na colonização de novos habitats», explica a estudante de doutoramento. «Os briófitos reduzem assim, a erosão e preservam o solo da dessecação extrema e a sua elevada capacidade na retenção de água permite-lhes não só absorver a água rapidamente, como libertá-la lentamente para o ambiente circundante».

Assim, tendo os briófitos um papel extremamente importante no equilíbrio do ecossistema onde se inserem e sendo que a sua manutenção pode estar condicionada pela segregação espacial dos sexos e esta pelas alterações climáticas, a investigadora pretende desenvolver modelos de distribuição espacial das plantas masculinas e femininas tendo em conta cenários de alterações climáticas.

«Os fatores climáticos e ecológicos podem afetar a capacidade dos briófitos se expressarem, são esses fatores que condicionam a expressão sexual que pretendo identificar neste trabalho. Para isso irei fazer um intenso trabalho de campo na Madeira, Tenerife e Sintra (em duas estações do ano) e adicionei a este projeto espécies que ocorrem no continente, a fim de perceber se para a mesma espécie de briófitos existem diferenças na expressão sexual entre ilhas e continente», explica.

Para este estudo, Anabela dos Santos Martins selecionou seis espécies de briófitos unissexuais de acordo com duas categorias: três espécies ameaçadas e endémicas da Macaronésia e três espécies Ibero-Macaronésicas que ocorrem também no continente. Depois irá prever a determinação da expressão sexual para todos os exemplares recolhidos, entre 200 a 300 por espécie e estação do ano.

No final, «após a conclusão do trabalho de campo, serão determinados os padrões de expressão sexual e proporção sexual das espécies-alvo na Macaronésia e no continente e assim poderei inferir sobre as variáveis que moldam a expressão sexual nestas espécies», afirma.

E é ao longo do processo de recolha de dados, que o herbário LISU do MUHNAC desempenha um papel fundamental. «Estou a consultar a coleção de briófitos do herbário LISU, em particular a coleção da Madeira. Esta é uma coleção riquíssima, onde posso consultar exemplares colhidos em diversos habitats da ilha da Madeira, desde as zonas costeiras até às mais bem preservadas da Laurissilva e também as regiões de alta montanha. A coleção está em ótimo estado, e a maioria dos exemplares foram colhidos após 1990 pela minha orientadora Professora Manuela Sim-Sim», refere a doutoranda.

Anabela dos Santos Martins acrescenta ainda a razão porque a existência de herbários são essenciais para a investigação científica e, no caso, para o seu trabalho. «Para a modelação espacial dos sexos quantos mais dados de ocorrência tiver, mais robustos serão os meus modelos. Neste sentido e na impossibilidade de recolher mais dados de campo, vou recorrer às coleções de herbário LISU e também TFC da Universidade de La Laguna, Tenerife. Irei ainda estudar a coleção do herbário do Jardim Botânico da Madeira e do Museu Municipal do Funchal. Ao observar os exemplares de herbário, consigo identificar plantas masculinas e femininas aumentado a minha base de dados geoespacial».

Cumprido o primeiro ano de doutoramento, Anabela dos Santos Martins tem estado no MUHNAC, enquanto instituição de acolhimento, onde já estudou alguns espécimes de briófitos. Mas no seu trabalho, também prevê um contributo para o crescimento do herbário LISU. «Neste momento, tenho para dar entrada 21 espécimes resultantes da implementação do protocolo de trabalho de campo na ilha de Tenerife. No próximo ano, com a conclusão do trabalho de campo serão depositados entre 2000 a 3000 espécimes no herbário LISU».

No final do seu trabalho e de compreender a distribuição de briófitos de acordo com a sua expressão sexual, assim como os fatores ambientais que a influenciam, Anabela dos Santos Martins tem como grande objetivo «iniciar a conservação e propagação ex-situ de germoplasma para reforçar as populações de espécies de briófitos ameaçados da Macaronésia».

Isto significa que os seus resultados podem ajudar a demonstrar e alertar para as consequências nefastas das alterações climáticas, mas também a tomar medidas de prevenção ao iniciar a conservação e propagação ex-situ de germoplasma para caso estas espécies venham a desaparecer, as possa devolver à natureza e impulsionar o seu repovoamento nas ilhas oceânicas.

Fonte: Museu Nacional de História Natural e da Ciência

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