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Investigação e Desenvolvimento

HATE COVID-19.PT: um projeto que seguirá o rastro ao discurso de ódio em português

O projeto liderado pela professora Paula Carvalho foi um dos contemplados no âmbito da linha de apoio "Impacto COVID-19 nos crimes de ódio e violência", promovida pela Fundação para a Ciência e a Tecnologi a.

HATE COVID-19.PT: um projeto que seguirá o rastro ao discurso de ódio em português

Ofensas diretas sem pudor.  Elogios camuflados de ódio com o intuito de depreciar. Ameaças físicas contra a vida de outrem ou da sua família. Um scroll por qualquer que seja a rede social oferece-nos uma viagem guiada – e para todos os desgostos – ao amargo mundo do discurso de ódio. As estatísticas dizem que este fenómeno aumentou com a pandemia, no entanto, bastava-nos olhar para os comentários que invadem as publicações para termos plena consciência disso.

Vários organismos europeus e internacionais emitiram recomendações para o reforço do conhecimento compreensivo de crimes de incitamento ao ódio e à violência de carácter racista, xenófobo, de género e homofóbico, alertando também para os baixos índices de denúncia e participação. Estas preocupações foram amplificadas perante os efeitos desproporcionais, em certas comunidades e grupos vulneráveis, destas práticas durante a pandemia da COVID-19. Como resposta a esta problemática, a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) decidiu abrir uma linha de financiamento para apoiar projetos que se debrucem sobre o tema contribuindo para o seu combate. Um dos projetos selecionados conta com uma equipa de investigadores do Técnico/INESC-ID, liderada pela professora Paula Carvalho, docente do Departamento de Engenharia Informática (DEI).

Tal como o nome revela, “HATE COVID-19.PT –Detecting Overt and Covert Hate Speech in Social Media” o objetivo central deste projeto é contribuir para a análise e deteção de discurso de ódio, aquele que está exatamente nas plataformas online e em português. “Por um lado, é prioritário investir em línguas como o português, cujos recursos linguísticos para análise e deteção de ódio são ainda bastante escassos”, começa por explicar a professora Paula Carvalho. “Por outro lado, pretendemos analisar especificamente a dinâmica deste fenómeno na comunidade online portuguesa, tendo em consideração a dimensão temporal, de modo a compreender o impacto da pandemia no discurso de ódio nas redes sociais”, complementa a docente.

A equipa de investigação pretende estudar a dinâmica deste fenómeno num contexto específico, com grande impacto societal, e cujo início é possível de delimitar. Por isso mesmo a análise do discurso de ódio incidirá sobre o período da pandemia. Esta investigação “será, pois, fundamental para validar se, de facto, as circunstâncias atuais impulsionaram significativamente este fenómeno”, identificando concretamente os principais alvos do discurso de ódio em Portugal nos tempos pandémicos.

O projeto, que terá uma duração de 10 meses, arrancou no passado dia 1 de maio, tem como entidade proponente o INESC-ID, conta com a parceria da Agência de Notícias Lusa e o Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS) e arrecadou em 35,8 mil euros de financiamento.

A investigação assentará na construção de um corpus representativo do fenómeno em análise que será manualmente anotado por linguistas e especialistas em comunicação. “Entre outros aspetos, a anotação envolverá a caracterização semântica do grupo-alvo de ódio, a intensidade do sentimento veiculado na mensagem, o grau de explicitação da informação e as principais ferramentas retóricas utilizadas- por exemplo, a metáfora, a ironia ou o humor”, esclarece a professora Paula Carvalho. Assim, e para além de identificar os alvos, a equipa procurará perceber que formas de expressão – direta e indireta – são utilizadas para os atacar. “Tencionamos explorar igualmente abordagens de aprendizagem semi-supervisionada, recorrendo a modelos baseados em Transformers (BERT), para aumentar o corpus”, acrescenta a líder do projeto.

De todo este trabalho resultará um protótipo, desenvolvido ainda no decorrer do “HATE COVID-19.PT”, que permitirá identificar as mensagens potencialmente veiculadoras de discurso de ódio nas redes sociais, distinguindo os alvos do discurso de ódio direto e indireto, e determinando a intensidade do sentimento utilizado nesses conteúdos. “Este protótipo ficará disponível para o uso da comunidade e poderá ser explorado, futuramente, por especialistas da linguagem, das ciências da comunicação e das sociais, profissionais da comunicação social, entre outros, para monitorizar, analisar e avaliar a evolução do discurso de ódio nas redes sociais”, adianta a docente do DEI.

No final do projeto, os resultados, os modelos computacionais e o protótipo ficarão disponíveis ao público e à comunidade científica para uso em futuros projetos. “A visão da equipa é a de que a partilha de conhecimento e de recursos é fundamental para o avanço do conhecimento científico”, destaca a líder do projeto.

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